TERRA

Uma tentativa de destrinchar a terra e encontrar nessa língua maldita migalhas de significantes suficientes para descrevê-la. A proposta aqui é que se parta do princípio de que toda nomeação é arbitrária e por tanto contraditória. A contradição é elemento crucial na construção desse mapa já que acredito que cada vez que definimos algo, nos distanciamos ainda mais da compreensão do que aquilo que poderia ser.
Os significados da palavra terra encontrados no dicionário foram analisados e os compreendi em 4 regiões, Planeta, Mundo, Solo e Lugar.
Terra Planeta é o organismo vivo cujas energias internas e externas se relacionam proporcionalmente numa dança que produz vida em si mesma. Terra Planeta é um pulsante retroativo, calmo, que vem desde a história da sua morte e da sua vida criando e recriando vida para que seja possível viver aqui. Como podemos aprender a viver com estruturas orgânicas como placas tectônicas e magmas, tempestades e secas, vegetações profundas ou calotas polares?
A energia interna e externa da terra permitem que haja vida, portanto, permitem que multiplas existências, através do corpo-matéria, existam. Uma delas é a humana. A existência humana subjetiva, atráves da linguagem, o planeta, e o resultado dessa equação é essa ideia de Mundo. Aqui é sinônimo de vida, existência, universo, planeta. A partir dos processos de humanização, civilização e socialização a humanidade ou civilização ou sociedade determina a si mesma e determina aquilo que é o outro, o que é externo de si. Determina assim o que é planeta e o que é mundo, como acontece nesse mapa mental e nesse texto.
Tudo isso é linguagem, a segunda proposta aqui é aceitar a Linguagem como Fronteira que pode ser encontro ou separação. E que para isso é preciso que ela exista para além da humanidade.
Adentrando a subjetividade, tanto da mente humana quanto da matéria orgânica (que existe mesmo a Humanidade acreditando ser a única detentora do pensamento), investiga-se a terra como Lugar, espaço-tempo, um ambiente, um lapso. É somente a partir de um espaço que é possível existir, uma terra, um território. Como essas dinâmicas territoriais constroem nossa percepção sobre nós mesmos, e como nossas percepções transbordam nas nossas territorialidades. Quais fronteiras existem entre corpos? Como determinar um lugar de origem num mapa desenhado com linhas imaginárias e invisíveis? E quando essas linhas são visíveis através das fendas dessa sociedade? Como ultrapassá-las?

Assim acima como abaixo. Assim na terra como no céu Todas as construções e desconstruções, todos os pensamentos, ações, separações, caixas e etiquetas, todas as linhas de metro, estradas intermunicipais, todos fios de fibra ótica, telefones sem fio, todos os prédios e sua demolições, todas as palavras e seus sons, todas as onomatopeias e cacofonias jurássicas, todas as pinturas, toda morte e destruição, toda vida abundante, todo nascimento, tudo aquilo que acontece na terra
permanece na terra.